sábado, setembro 25, 2004

VIAGEM

Guiava por aquela estrada sem pensar em nada. Limitava-se a olhar à volta e sentir o cheiro da terra molhada derivado da chuva miúda que acabara de cair. As arvores molhadas brilhavam e as pequenas poças no meio da estrada reflectiam as folhas. Não via o céu porque as arvores dos dois lados da estrada lhe tapavam essa visão. As riscas brancas pintadas nos troncos criavam uma monotonia crescente. Á volta via os campos esverdiados mas sem vida.

Guiava sem nada na mente até que se lembrou do que tinha acontecido momentos antes. Não disse nada. Queria apenas encontrar alguém com quem partilhar esse momento. à sua volta não havia nada por isso limitou-se a acelerar. Quanto mais depressa andava mais se lembrava daquele momento. Mais queria contar a alguém. Mais só ficava.

Sabia que, depois do que se passou, guiava sem destino. Não sabia para onde ir. Não via o fim da recta. Não via o fim das árvores. Via a risca branca arvore após arvore. Via a monotonia à sua volta. Via apenas o que lhe passava pela mente, uma recordação daquele momento. Queria contar a alguém. A vida tem destas coisas, nem tudo o que queremos acontece. Mas sentia que no seu caso tinha sido diferente até aquele dia. Sabia que tinha tido tudo. Sabia que podia ter ficado com tudo. Sabia que a vida lhe tinha dado exactamente o que necessitava para ser feliz. Sabia.... até aquele momento.

Estava perdido na vida, perdido no tempo, e sem poder contar o que se passou a ninguém. Pensou nela. Mas de nada lhe servia. Não depois do que se passou. Não depois de tudo. Sorriu. Olhou à volta e reparou que finalmente via o fim da estrada. Uma curva apertada. Um muro de pedra alto. à sua volta as arvores, a estrada molhada e o forte cheiro a terra húmida. Colocou o pé com mais força no acelerador. Aproximou-se rapidamente da curva, do muro, e não virou.

quarta-feira, setembro 22, 2004

AVALIAÇÕES

Muito se tem falado da necessidade de avaliar para se poder evoluir. E fala-se em avaliar uma série de pontos. As escolas, os professores, os alunos ou os funcionários públicos. Avaliar está na ordem do dia.

Todos os dias nós avaliamos consciente ou inconscientemente uma série de coisas. Avaliamos as nossas decisões e as nossas compras, as nossas ideias ou as dos outros. A avaliação é de facto necessária. Aqui fala-se de avaliação para que se possa, através da “meritocracia”, promover. E isso eu creio que é fundamental. Mas essa avaliação tem que ser transparente. O mais transparente possível. Deverá evitar sempre que possível critérios subjectivos porque todos sabemos o que isso implica.

Em termos de empresas privadas essa avaliação, bem ou mal, já é feita à muito. A novidade é fazer isso em serviços públicos. E creio que se podem retirar benefícios disso, caso a avaliação seja correctamente feita e se retirem consequências disso.

Gostava ainda que a classe política fosse também avaliada. Avaliada com critérios nada subjectivos como por exemplo uma comparação entre o programa de governo (no caso do partido de governo) e as medidas reais, ou entre as promessas eleitorais e as realizações efectivas. Daí ter-se-ia que retirar os políticos que tinham nota positiva e negativa, sendo que os segundo não deveriam poder permanecer em funções políticas. Talvez assim os políticos pensassem melhor antes de prometerem mundos e fundos.

terça-feira, setembro 21, 2004

ESTADO DAS COISAS

Mas que país é este? Mas qual é o caminho por onde andamos? E onde nos leva essa caminho?

As cidades, e falo principalmente de Lisboa, onde vivo e trabalho, está um caus. Os políticos fazem cá o contrário do que outros países nos tentam demonstrar. Falam em trazer jovens para o centro da cidade mas o que mostram é vontade de trazer mais e mais carros. São disso um exemplo claro os tuneis do Marquês ou as propostas de pontes sobre o Tejo. A poluição aumenta, os jovens continuam a fugir do centro, por motivos obvios de especulação imobiária, a cidade está cada vez mais confusa. E essa confusão afasta-nos. E os políticos? Onde estão as medidas que podendo ser impopulares hoje se tornariam trunfos no futuro?

A educação, bem, a educação não tem explicação. O actual erro, prontamente justificado como erro informático mas que a mim me levanta bastantes dúvidas, não passa de mais uma pedra no sapato. A educação neste país é uma miséria, uma verdadeira máquina de chouriços, ou de alunos. Entram crianças inocentes nas escolas primárias e saem verdadeiras máquinas capitalistas da faculdade (no nosso caso essas máquinas necessitam ainda de muito óleo porque até essa preparação não é muito boa)

A economia é outra vergonha. A fraude fiscal que deveria envergonhar é vista como um feito, uma vitória e um motivo de se vangloriarem perante os outros. A classe média não pára de ser atacada sendo disso exemplo o recente aviso do fim dos benefícios fiscais para as contas poupança habitação, reforma, etc... (provavelmente a única forma de alguns Portugueses pouparem), ou o aviso de que as idas aos hospitais podem passar a ser indexadas às declarações dos rendimentos (fraudulentos por sinal) - mas afinal não existem já impostos diferentes consuante o que cada um recebe.

Mais podia ser dito. E será, com o tempo.

O país está numa vergonha. E ninguém faz nada para mudar isso. Têm que ser os jovens a levantar a voz - onde eu me posso incluir se bem que com alguma dificuldade. A dizer BASTA. A dizer MAIS NÃO. Mas têm também que apresentar soluções. Reformas sociais e políticas, diferentes opções de escolha. Para isso o debate é importante, imprescindível mesmo. E as opiniões de todos têm que ser ouvidas.

quinta-feira, setembro 16, 2004

FIM DE FÉRIAS

Do blog, quero dizer. Ainda tenho férias por marcar, mas quero voltar a escrever depois de bastante tempo sem nenhuma opinião exprimir. Vamos ver se sou capaz.