segunda-feira, julho 26, 2004

VULGARIDADE

As pessoas são vulgares. São maioritariamente vulgares. Andamos na rua, olhamos à volta e parecem bonecos, todos iguais, as mesmas expressões, o mesmo tipo de roupa, a mesma forma de andar. As sociedades são iguais, as pessoas são iguais, as políticas são iguais, é tudo igual... nada muda.

Olhando de cima, numa rua cheia, nada mais vimos que simples cabeças a andarem de um lado para o outro, com pouca ou nenhuma expressão na cara, sem qualquer tipo de criatividade embutida. São apenas movimentos regulares como se de uma máquina se tratasse.  Variam as cores, e mesmo essas não muito porque a “indústria da moda” as define, variam as caras, mas não as expressões, variam os caminhos, mas vão todos para o mesmo lado. Pouco varia. Nada é diferente.

É o resultado da igualdade. É o resultado da estupidificação da população. É o resultado de se apostar na mediocridade e não na qualidade.

Porque é que será que as pessoas são cada vez menos criativas? E quando são, porque é que são consideradas “diferentes” e descriminadas?

Temos que procurar a diferença. A criatividade. A singularidade.

FÉRIAS

Vou de férias.

E estou farto de Lisboa. Da cidade. Do barulho. Da confusão. Da poluição. Da quantidade de pessoas. Estou farto do transito. Da demora. Da obrigação. Do trabalho. Do calor. Dos dias. Das noites. De acordar. De ir. De não poder ir. De correr. De olhar à volta e nada ver. Estou farto do dia a dia como ele é. De pensar como deveria ser. Como poderia ser.

E por isso vou de férias. Vou para a calma de um local. Para o mar. Para o descanso. Para o azul e verde. Para a areia. Vou para a esplanada ler. Para a praia andar. Vou correr. Vou brincar. Vou dormir. Vou não fazer nada. Vou poder não fazer. Vou querer não fazer. Vou olhar. Fotografar. Contemplar. Vou.

Vou partir. Mas depois vou voltar.

segunda-feira, julho 12, 2004

MOMENTOS

Há momentos na vida em que ficamos contentes por pura e simplesmente nada acontecer.

Quando nada acontece tudo corre bem. Esses momentos são como as tardes de Domingo que ficamos imóveis em frente a um ecrã, olhamos para as arvores, deixamos passar o tempo. Momentos de em nada pensar e de nada fazer.

Gosto de não fazer nada. Gosto desses momentos.

sexta-feira, julho 09, 2004

ESTADO POLÍTICO III

Não concordo com a posição hoje apresentada pelo Presidente da República. E não concordo pelos seguintes pontos que passo a expor:

1 - Com a necessidade de apresentação de um novo programa eleitoral pelo também novo governo, o povo deveria ser obrigatoriamente chamado a escolher.

2 - O programa sufragado à dois anos está longe de estar a ser cumprido pelo que é obrigação do presidente ter em conta este facto político. As grandes promessas bandeira do PSD não se cumpriram. O povo deve ser consultado. Se juntarmos a isso o primeiro ponto, as eleições antecipadas eram de facto fundamentais.

3 - A actual coligação existente na assembleia nunca foi legitimada pelo povo. Foi formada após as eleições legislativas e passou apenas por eleições europeias. Esse resultado foi o conhecido pelo que mais uma vez existe legitimidade para a dissolução e convocação de eleições.

Não quero com isto dizer que não respeito a decisão do Presidente da República.

Também não creio que as palavras do presidente tenham como finalidade nem tão pouco como base a legitimação do actual programa do Governo. Creio que o que foi dito é que o povo votou um programa que se deverá manter - daí a frase sobre o facto de não tolerar ou aceitar mudanças radicais na política do governo, e caso ele não seja cumprido (na minha opinião não está neste momento) então ele poderá dissolver a assembleia da república.

Devo apenas acrescentar que segundo a minha opinião, o país está neste momento entregue a políticos sem escrúpulos, ao populismo barato e à lei do Lobby. O populismo será mesmo a tónica que mais notará, e o perigo do abuso de poder existe.

Devemos respeitar a decisão mas devemos também criticar. Eu não concordo.

ENSINO

Procurarei dar a minha opinião, em formato o mais construtivo possível, sobre o estado da Nação. Na minha opinião a Educação deverá ser, juntamente com a Saúde e seguida pela Segurança Social, a grande prioridade do Estado. Só com políticas evolutivas nestas áreas o país poderá crescer e caminhar no sentido da melhoria das condições de vida. Esta deveria ser a função do estado, melhorar as condições de vida dos cidadãos.

Começo pela Educação. A reforma educativa é por demais necessária. Tentarei abordar o tema em três grandes áreas distintas: Ensino Primário (até a antiga 4ª Classe); Ensino Secundário (até ao 12º Ano); Ensino Superior:

1. Ensino Primário – Todas as bases de educação fundamentais são dadas às crianças dentro desta fase. A verdade é que a sociedade evoluiu e a escola não. Hoje, as crianças vão cada vez mais cedo para a escola (ou infantário) apenas e só porque ao pais não têm tempo para elas. E por isso vão para a escola. Esta escola é cada vez menos útil uma vez que sua finalidade deixou de ser educar para passar a ser ocupar. Se era habitual as crianças irem para a escola fazer coisas que não faziam em casa, como conhecer materiais, deslocações a museus, visitas de estudo, isso é cada vez mais, numa determinada camada da sociedade cada vez maior, mais habitual. Ou seja, a utilidade da escola diminui. É fácil verificar que as crianças são hoje mais estimuladas e mesmo sem frequentarem a escola conhecem mais e aprendem em casa. Assim, deverá também aqui existir um trabalho no sentido de transformar a ocupação necessária em utilidade educativa. Como? Desenvolver muito mais as áreas criativas e artísticas nas crianças em detrimento da educação banal, da educação do sistema. A minha filha vai agora, aos 3 anos e meio, para a escola. Não espero que a ensinem a comportar-se (esse é o meu papel) mas exactamente o contrário (no sentido lato claro) – que se exprima, que crie e invente, que se divirta. Só assim poderemos ter jovens mentalmente desenvolvidos e futuros Homens felizes.

2. Ensino Secundário – A escola secundária passou a ter como função principal a educação comportamental. E este é um papel difícil, que maioritariamente não é conseguido, e na minha opinião não é o correcto. Não deveria ser a escola a ter este papel, nem os seus professores. À escola pede-se demais. Aos pais nada se exige. Os actos comportamentais doa alunos devem ter repercussões nos pais. Á escola deve-se exigir que transmitam a informação necessária, a nível educacional, para que o aluno possa dirigir-se para o mercado de trabalho (caso não siga para a faculdade) com as ferramentas necessárias. A grande preocupação deverá estar ao nível das matemáticas (recorrer a um ensino menos teórico e muito mais prático) e das línguas (com especial importância na língua materna mas existindo mais uma de fundo). Deveria ainda ser criada uma área de desenvolvimento criativo (onde a imaginação e criatividade fossem trabalhadas) e de economia geral (incidência em finanças domésticas e entendimento do funcionamento da economia global).

3. Ensino Superior – O canudo. A faculdade é hoje um verdadeiro canudo. O ensino é maioritariamente teórico e tem pouca aplicação nas empresas. Os alunos perdem 4 ou 5 anos da sua vida sem se ver resultado prático nisso. É fundamental uma reforma de fundo no ensino superior. Essa reforma tem que passar pela diminuição do número de anos (no máximo 3 anos) e por um programa totalmente diferente. Dever-se-á trabalhar em conjunto com as empresas para procurar, em cada área, quais os pontos fundamentais em termos de ensino. Deverá ainda ser incluída uma disciplina de ética no trabalho, virado para as diferentes áreas de mercado (economia, saúde, educação, jornalismo, etc...). Os alunos deveriam ser avaliados de uma forma continua e não apenas em exames finais. O trabalho com as empresas deveria igualmente determinar o número de vagas, por forma a encaminhar alunos para as que têm mais necessidades humanas (claro que sempre de acordo com os interesses dos alunos). As faculdades privadas deveriam viver da mesma forma que as públicas.

Não sei sinceramente se os aspectos levantados seriam suficientes. Creio sim que seria um inicio de um debate interessante. Nenhuma politica educativa poderá ser vista no curto prazo mas as suas influências a longo prazo serão enormes e não podem ser consideradas menores. Deverá existir uma procura de consenso nesta área já que estamos a falar dos nossos filhos e netos e do futuro do país. Claro que muitos mais pontos poderiam aqui quer colocados. Fica uma primeira abordagem.

terça-feira, julho 06, 2004

FUMAR

Eu fumo. E já fumo à mais de 15 anos. Mas sou aquilo a que se pode chamar um fumador com bom senso (se é que isso pode existir). Tento não fumar em locais fechados, pergunto se posso fumar quando estou com não fumadores. Tento ao máximo não incomodar os que me rodeiam. Mas não suporto a intolerância contra os fumadores. Não suporto os que proíbem o fumar em qualquer situação, os que são contra os que fumam só porque não fumam, os que não têm qualquer tipo de bom senso.

Como em tudo acredito que o bom senso tem que prevalecer. Acho que se deve poder fumar. Acho que deve haver zonas para fumadores e para não fumadores. Acho que os fumadores não devem ser marginalizados em cantos obscuros e salas intragáveis como existem em muitos países e em bastantes empresas em Portugal. Deve-se criar condições para que quem fuma possa fumar e não incomodar os outros.

Fumar é um vicio. E tem que ser visto como tal. Deve ser tratado como tal. Comecei hoje a utilizar um medicamento que me pareceu interessante e que procura ajudar a retirar a dependência da nicotina. Ou seja, ajuda a reduzir a dependência física/quimica sendo que a psicológica e a social, que também existem, fica por nossa conta. Vamos ver. Sou muito céptico em relação a estas coisas mas vou tentar.

Existe no entanto um problema em relação a estas tentativas de deixar de fumar. É que eu fumo porque de facto gosto muito de fumar e sabe-me bastante bem. Tenho plena consciência que a maior parte dos cigarros são vicio puro. Mas há os outros. Aqueles que eu de facto gosto mesmo e me sabem muito bem. Era bom fumar só esses... mas creio que isso é impossível. Por isso ainda acredito minimamente neste método. Retira a dependência da nicotina e as coisas tornam-se mais simples. Vamos ver... não custa tentar.

segunda-feira, julho 05, 2004

QUE PENA

Que pena termos perdido. Foi de facto uma pena mas a verdade é que tenho que admitir que ontem a Grécia foi mais forte e jogou melhor. Que pena.

Apesar da frustração e do desgosto fui para a rua como tinha dito. Valeu a pena. Descer a Av. Da Liberdade sem carros é bonito. Só por isso valeu a pena. E ver os Gregos a festejar. Mais interessante foi ver Espanhóis, Holandeses, Gregos e Portugueses, todos em festa.

Mas que pena..... é o que me ocorre. A festa foi gira, mas com a vitória teria sido enorme. Foi pena mas foi bom. Parabéns.

domingo, julho 04, 2004

EURO 2004

É o meu primeiro post com o tema Euro 2004. Gosto muito desporto. Gosto muito de futebol, de bom futebol. Por isso os Jogos Olimpicos, os campeonatos da Europa e os do mundo me agradam tanto. Embora tenha achado e continue a achar que o noso país tinha mais sitios onde gastar dinheiro, não quero agora aqui discutir esse ponto. Quero apenas falar um pouco do Euro 2004 no seu lado desportivo.

Tenho gostado muito. Dos jogos, do comportamento dos adeptos, da organização, da festa. E como tem sido bom ver Portugal ganhar, e ganhar bem. Não entendo muito bem a euforia à volta das nossas vitórias mas também fui com amigos, a minha mulher e a minha filha de 3 anos para a rua festejar. E fui em todas as vitórias - excepto a com a Russia. E gosto. Gosto da festa do futebol. É o que o futebol tem de mais bonito.... a festa.

E é por isso mesmo que mais logo, quer Portugal ganhe quer não ganhe (e eu espero claro que ganhe e bem) eu vou de novo para a rua. Festejar aquilo que considero uma festa, uma vitória - o facto de estarmos na final e de tudo ter corrido tão bem merece ser festejado, qualquer que seja o resultado final. Parabéns Portugal.

sábado, julho 03, 2004

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDERSEN

"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."

Sophia de Mello Breyner Andresen 1919-2004

quinta-feira, julho 01, 2004

CANCRO

O século XIX e o principalmente o século XX detectaram no seio da humanidade um cancro. Um cancro que, como todos, mata. Começa apenas por destruir e acaba por matar. Mas fá-lo de uma forma tranquila, calma e sem pressas. Um cancro a que chamaram lucro. Este cancro tornou-se o comando e, hoje, tudo é feito em função do lucro.

Como em todos os cancros, também neste a luta é necessária mas difícil de ser vencida. A necessidade de conhecer o cancro é imprescindível, o seu método de funcionamento é implacável. Mas é importante sabermos que existe. Difícil será perceber como funciona. Não sei mesmo se alguém o entende.

O Lucro, quando existe, tem poucos destinatários. Sabemos que são os ricos que ficam mais ricos. Sabemos que dinheiro gera dinheiro. Mas afinal o que se faz com lucros que não só não se sabem como surgem como não se percebe por quem são distribuídos? Esta distribuição, quando existem accionistas, é feita para estes? Mas não são também estes empresas, que têm igualmente accionistas e assim por diante? E se o lucro não é reinvestido o que se faz com ele? E se não existem accionistas vai para onde? Volta aos bolsos dos ricos, que naturalmente se tornam mais e mais ricos. E o que ganha a sociedade com isso? Para que serve afinal o lucro? Para matar... apenas para nos matar.

Não nos podemos submeter mais à corrupção do lucro. O lucro só seria útil para todos se for reinvestido por e para todos. Só com a eliminação do lucro como finalidade base se poderá combater este cancro que nos matará, como sociedade democrática, em pouco tempo.

É necessário debater e colocar estas questões em cima da mesa para que possamos aspirar à sobrevivência. Só assim encontraremos uma forma de travar este cancro. Temos que por fim a uma sociedade gerida e guiada apenas pelo lucro.