sexta-feira, junho 24, 2005

O FIM

Ele tinha 17 anos e ela 16. Ele era alto, de cabelo loiro e olhos azuis. Tinha um corpo musculado mas não exagerado, com formas definidas. Ela era bonita. Ela era muito bonita. Tinham começado a namorar à 6 anos e desde esse dia 18 de Março vivido uma intensa paixão. Depois tudo tinha terminado. Estavam agora sentados frente a frente à sobra de uma arvore velha, num campo grande e amarelado. Um campo com um cheiro a erva seca. O silêncio atravessava o ar e deixava-os sem palavras. Sabiam o que estavam ali a fazer. Olhavam-se nos olhos sem dizer nada. Sentiam o medo de nada poderem fazer. Sem nada dizer, pegaram cada um na sua faca e com uma suavidade excessiva começaram a cortar a pele do pulso de onde saiu um fino fio de sangue. A cara dele em nada mudou. Dela saiu uma suave lágrima brilhante que lhe correu pela cara até parar no canto da boca. O corte foi-se tornando mais profundo e a tensão nas suas mãos aumentou. O sangue escorreu-lhes pela mão. O vermelho sobressaiu da pele branca de ambos. Deitaram-se lado a lado sem nada dizer e ali ficaram. Deram a mão mas não se olharam nos olhos. Com o fim mais nada valia a pena.

terça-feira, junho 07, 2005

SINAIS DA EUROPA

Alguns países da Europa têm, ultimamente, dado importantes sinais para reflectirmos. França, Holanda, Suiça e Itália mostraram a sua opinião. E nós interpretamo-las conforme quisermos.

Em França e na Holanda venceu o Não à Constituição Europeia apresentada. Não acredito sinceramente que os votantes, pelo menos a maior parte, tenha conhecimento profundo ou mesmo suficiente sobre o tema. As abstenções foram reduzidas. E por isso mesmo devemos pensar o que quer dizer este Não.

França é, dos países Europeus, aquele que historicamente mais importância dá às questões sociais. Luta por elas e defende-as como mais nenhum. Os Franceses disseram Não a uma Europa que tem cada vez menos consciência social e se vira mais para a economia e o lucro. Os Franceses disseram Não a isso. Essa é a minha interpretação. Na Holanda também venceu o não.

A Holanda é, a meu ver, o pais socialmente mais avançado da Europa. Em termos de tolerância, de evolução social, de preocupação social – não quero com isto dizer que é a sociedade perfeita, apenas que a considero socialmente evoluída. E os Holandeses também disseram que não.

Na Suiça vimos a abertura das fronteiras ser aceite por 52% com uma campanha populista de extrema direita muito forte. 4% de diferença num país também ele socialmente bastante evoluído. Mas é um facto que a Suiça sempre foi muito contra esta ou qualquer outra Europa. Sempre foram um pais muito próprio, muito virado para dentro.

De Itália veio outro sinal de peso. Dois, para ser mais preciso. Em primeiro lugar o facto de o Euro estar a ser posto em causa. Em segundo o facto das contas Italianas terem sido chumbadas pela Europa para os anos de 2003 e 2004 salvo erro. Itália abana e a Europa abana com ela.

Sinais. São apenas sinais. A verdade é que cerca de 4 anos depois de a Europa ter apontado todas as suas armas ao défice, as baixas começam a ser de peso. A economia está muito fraca (e era sobre a força económica que se depositavam todas as esperanças), o desemprego aumenta, as diferenças sociais evidenciam-se.

É esta a Europa que temos. A minha dúvida é se é esta a Europa que queremos. Eu acho que não.

segunda-feira, junho 06, 2005

CEREJAS

Adoro cerejas. Gosto da cor, do formato, mas adoro o sabor. Não sei se há muito para dizer sobre uma fruta, mas apeteceu-me escrever sobre elas.

As cerejas são bonitas. Têm uma cor invulgar (não sei se invulgar mas pelo menos não muito habitual) - falo das cerejas avermelhadas escuras, aquelas que quando as trincamos deitam um liquido que nos escorre pelos lábios e nos mancham a camisa. Aquelas que depois de comermos duas ou três ficamos com a boca em "sangue".

Adoro cerejas. O sabor é simplesmente divino. Eu que não acredito em Deus tenho que dizer que o facto de existirem cerejas me faz pensar duas vezes. Têm que ser criadas por algo superior. A textura ao trincar, a forma que têm, o facto de virem aos pares... deve ser pensado.

Gosto de comer duas ou três de cada vez. Gosto de as ter na boca e mastigar, mastigar, mastigar... deitar fora os caroços apenas se tiver mesmo que ser (admito que como muitos).

Adoro cerejas e só vejo nelas apenas um defeito. Deviam ser do tamanho das melancias.