quarta-feira, maio 19, 2004

INUTILIDADES PARTE I

O mundo está cheio delas. De todas as espécies. Hoje quero falar das inutilidades materiais e de como já não podemos viver sem elas (nem com elas muito embora nem sempre nos demos conta disso). É a bola de neve da economia global. Vive das inutilidades, obriga-nos a viver com elas e nós já as temos como uma necessidade assumida, como uma utilidade.
Todos os dias nos confrontamos com a necessidade de adquirir aquilo a que já chamamos bens (não de primeira necessidade mas de segunda ou terceira). As nossas casas estão cheias de produtos que se pensarmos conscientemente são inúteis e que os compramos pura e simplesmente por comprar. A grande parte das compras que fazemos pode ser evitada pelo simples facto de não ser necessária. Mas porque é que as continuamos a fazer?
O que torna interessante todo esta envolvente é que todos temos consciência desta realidade mas nada fazemos para a alterar. Sempre que compramos algo acabamos por nos manter envolvidos nesta “bola de neve”. E falo de bens tão simples como utensílios de cozinha com várias formas e cores mas sem diferença em termos práticos, de tapetes quadrados, redondos e ovais ou de canetas compridas ou curtas – a nossa necessidade primária fica satisfeita com qualquer um dos produtos.
Não deixa de ser interessante uma análise cuidada à pirâmide de Maslow, tentando introduzir esses produtos nos diferentes níveis. O intrigante é que muitos satisfazem exactamente as mesmas necessidades e ainda assim somos impelidos a adquirir mais e mais do mesmo.
O que é que podemos fazer para sair deste puro materialismo? Pensar nele. Acredito que se pensarmos seriamente nisto durante o tempo suficiente poderemos conseguir abandonar este vicio de ter, de comprar, sempre mais e mais.
É aqui que se dá o grande contra-senso. Caso a sociedade em geral tome consciência e consiga alterar o seu comportamento face a estas inutilidades, a sua tendência é morrer. A economia sustenta-se, desde à vários anos, na compra e venda dessas inutilidades. Sem elas as empresas fecham, os empregados são despedidos e deixa de existir capacidade para a compra dos outros bens, esses sim necessários. É uma bola de neve da qual já não há forma de nos vermos livres. Mas é uma bola que tem de ser e vai seguramente ser travada. A dúvida é quando e como.
Vamos apenas tentar ser um pouco mais abrangentes nesta breve análise. Na prática, caso deixemos de adquirir estas inutilidades as empresas que as fazem deixam de as vender e das duas uma: ou fecham com o consequente desemprego associado, ou mudam o produto que fabricam (até encontrarem algo que a sociedade considere de facto útil). Se com a segunda opção o mundo fica melhor, a dúvida está em perceber o que acontece caso a primeira seja que vinga (e essa vai de facto ter que acontecer na maioria dos casos). O que acontece é apenas uma coisa; essas pessoas deixam de fazer inutilidades. Ponto. A pergunta natural é o que é vão então fazer...... a resposta será sempre difícil mas espero sinceramente que passem a fazer utilidades. O ser humano sempre foi, ao longo da história, capaz de superar as fases economicamente negativas, com soluções evolutivas. Essa evolução é, a meu ver, necessária na actual conjuntura.
É que se por um lado a abolição deste materialismo será perigoso, mas a meu ver necessário, a sua manutenção é desastrosa. Mas também sabemos que é apenas quando caminhamos para o caos que se evolui.

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